Você já se pegou digitando no Google “como fazer minha empresa crescer” ou sentindo que, quanto mais você vende, mais a sua operação vira uma bagunça incontrolável?
Você não está sozinho. E o problema não é o mercado, não é a crise e nem a sorte. O problema é a física.
Recentemente, fiz uma análise profunda (“frame a frame”) do JJ Podcast #252, onde Tallis Gomes (fundador da Easy Taxi, Singu e G4 Educação) expõe uma filosofia de gestão que vai na contramão de tudo o que é “bonitinho” no mundo corporativo. O que encontrei lá explica exatamente por que a maioria das PMEs brasileiras bate num teto de faturamento e começa a sangrar margem.
Não são dicas de produtividade. É uma declaração de guerra contra o caos.
Neste artigo, extraí os insights mais poderosos dessa conversa e adicionei minha visão crítica. Vamos dissecar a tese central de Tallis: a luta contra a Entropia. E, fiel à minha natureza questionadora, não vou apenas repetir o que ele disse. Vamos analisar os fundamentos e questionar: será que você tem estômago para liderar como é necessário?
Por que, quanto mais sua empresa cresce, mais o caos parece tomar conta?
Tallis traz para a mesa de reunião um conceito da termodinâmica que todo gestor deveria tatuar no braço: a Entropia.
Basicamente, a Lei da Entropia diz que tudo no universo tende naturalmente à desordem e à morte.
- Um café quente esfria se você não fizer nada.
- Uma casa vazia acumula poeira.
- Uma empresa sem gestão rigorosa tende à ineficiência, à fofoca e à mediocridade.
A tese central é: Gestão nada mais é do que a aplicação intencional de energia (Ordem) para retardar a morte natural do negócio.
Muitos empresários acham que a empresa deve andar sozinha. Isso é um mito. Se você “soltar o volante” para dar autonomia total sem processos, o carro não segue reto; ele sai da estrada. A função do líder não é apenas motivar, mas agir como um escudo anti-entrópico.
Minha Provocação Crítica: Ordem vs. Inovação
Aqui cabe um questionamento importante: Tallis defende a ordem absoluta. Mas sabemos que a inovação disruptiva muitas vezes nasce na “borda do caos”, na experimentação desordenada.
A reflexão para você: Até que ponto a busca obsessiva por ordem (processos rígidos) começa a sufocar a criatividade necessária para pivotar o negócio? O grande desafio do gestor moderno é saber quando ser a “máquina de execução” e quando permitir o “laboratório de criação”.
A sua empresa deve ser uma democracia ou uma “Monarquia Aristocrática”?
Esqueça a hierarquia horizontal e os pufes coloridos do Vale do Silício de 2010. Tallis defende, com base em A República de Platão, um modelo estruturalmente rígido e hierarquizado, que ele chama de Monarquia Aristocrática.
Mas calma, não é sobre tirania. É sobre clareza de papéis:
- O Rei Filósofo (O Fundador/CEO): É o guardião da visão. Ele define “O Quê” e “Para Onde”. Ele detém a autoridade moral e estratégica. A visão não se vota; a visão se segue.
- A Aristocracia Técnica (Diretores/C-Level): Não são burocratas, são a elite intelectual. Eles definem “O Como”.
A distinção crucial que Tallis faz é entre o Aristocrata e o Oligarca:
- O Oligarca: Tem o dinheiro como fim. É movido pela ganância, busca atalhos e sacrifica o longo prazo pelo lucro imediato.
- O Aristocrata: Tem o dinheiro como meio. É movido pela virtude, pelo legado e aceita a dor do sacrifício presente para construir algo sólido no futuro.
Minha Provocação Crítica: O Risco do “Pequeno Ditador”
O modelo monárquico funciona maravilhosamente bem se o “Rei” for, de fato, um filósofo virtuoso e sábio. Mas e se ele for apenas um tirano com ego inflado?
A reflexão para você: Centralizar a visão exige que o líder tenha uma autoridade moral inquestionável. Se você exige sacrifício do time (“mentalidade de aristocrata”) mas age como um oligarca (focando apenas no seu bolso e mordomias), esse sistema colapsa. O time não segue o cargo, segue o exemplo. Você é o exemplo do que prega?
Você está contratando currículos ou valores (e por que o RH deve ser um “Porteiro Bravo”)?
Um dos pontos mais polêmicos abordados no podcast é a visão sobre contratação. A crença aqui é dura: Cultura não se treina.
Tallis argumenta que os valores morais e de caráter são formados na primeira infância (até os 7 anos). Logo, a empresa não consegue “ensinar” ética, resiliência ou honestidade; ela só consegue ensinar técnica (Hard Skills).
O seu RH não deve ser um departamento de “boas-vindas”, mas sim um Porteiro de Boate, barrando na entrada qualquer pessoa que não tenha fit cultural extremo, mesmo que seja um gênio técnico com currículo da NASA.
A Tática Prática:
Faça a auditoria dos “Últimos 10”. Analise as últimas 10 pessoas que você contratou, as 10 que promoveu e as 10 que demitiu. Os motivos reais dessas ações dirão qual é a sua cultura de verdade, não aquela frase bonita pintada na parede da recepção.
Por que aceitar “números arredondados” é o mesmo que aceitar mentiras na sua gestão?
Como aplicar essa ordem na segunda-feira de manhã? Existe um “Game Changer” tático que separa amadores de profissionais: a Precisão Obsessiva.
Na gestão de alta performance, a ambiguidade é o inimigo. Joel Jota comenta que aplica a regra do “Arredondou, Mentiu”.
- Errado: “Chefe, o projeto está quase pronto.” (Isso não diz nada).
- Certo: “Concluímos 85% dos tickets e a entrega será na quinta-feira às 14h.”
Se você, como gestor, aceita dados arredondados ou respostas vagas (“estamos vendo”), você está aceitando uma mentira confortável. A precisão força a profundidade. Quem sabe o que está fazendo, sabe o número exato.
Como organizar uma One-on-One realmente eficiente (O Script de 4 Passos)?
A maioria dos gestores odeia reuniões de 1:1 porque elas se tornam sessões de terapia ou “conversa de elevador” de 30 minutos. Se você sai da reunião sentindo que apenas “jogou conversa fora”, você falhou.
Para combater a entropia, a reunião precisa ter ritmo e pauta sagrada. Tallis Gomes não improvisa; ele segue um script. Aqui está o modelo para você copiar e colar na sua agenda na próxima semana:
Frequência: Semanal (não quinzenal, não mensal).
Duração: 20 a 30 minutos (focados).
O Script de Guerra:
- O Checkpoint (Passado – 5 min):
Não pergunte “como estão as coisas?”. Pergunte: “Quais eram as metas da semana passada e quais foram os resultados exatos?”.
Bateu? Ótimo. Não bateu? Por quê? (Sem desculpas, foco na causa raiz).
Lembre-se da regra: Arredondou, mentiu. - A Potência (Desenvolvimento – 10 min):
Aqui está o diferencial da “Aristocracia”. Você não quer apenas um funcionário que aperta botões, você quer alguém que evolui.
Pergunte: “O que você estudou ou aprendeu esta semana que te tornou um profissional melhor?”
Se a resposta for “nada”, atribua uma tarefa de estudo obrigatória para a próxima semana. A estagnação técnica é inaceitável. - O Espelho (Feedback Radical – 5 min):
Uma via de mão dupla.
Você fala: “Aqui está onde você mandou bem e aqui está onde você precisa corrigir a rota.”
Você ouve: “Onde a minha gestão te travou essa semana? O que eu preciso fazer para destravar seu trabalho?” (Esteja pronto para ouvir verdades). - O Pacto (Futuro – 5 min):
Defina as metas da próxima semana.
O que será entregue? Qual é o prazo exato (dia e hora)? Qual é a métrica de sucesso?
A Regra de Ouro: Se não está escrito, não existe. Terminou a reunião? Envie uma ata com os pontos acordados. A memória humana é falha e entrópica. O documento escrito é a única garantia de ordem.
Minha Provocação Crítica: Micromanagement ou Suporte?
A linha entre cobrar precisão decimal e ser um microgerente insuportável é tênue.
A reflexão para você: O objetivo da precisão deve ser dar clareza ao funcionário sobre o que é sucesso, não vigiar cada respiração dele. Se você cobra o dado mas não dá a ferramenta ou o contexto para alcançá-lo, você não é um gestor exigente; você é apenas um estorvo burocrático.
Conclusão: Você tem estômago para aplicar a “Gestão Anti-Entrópica”?
O framework apresentado por Tallis Gomes no JJ Podcast é como uma “Ferrari sem freios”. Ele promete alta velocidade e escala, mas exige um piloto extremamente habilidoso e disciplinado.
Para aplicar isso na sua empresa, você precisa aceitar uma verdade inconveniente que poucos gurus de palco contam: A liberdade real só existe dentro da ordem.
Se você quer que sua empresa volte a crescer, pare de buscar atalhos e comece a construir os sistemas que combatem a entropia natural do seu negócio.
A pergunta final que deixo para você pensar é: Sua gestão hoje está agindo como um escudo contra o caos ou você está apenas assistindo à entropia consumir seus lucros?
Perguntas Frequentes (FAQ)
O que é Entropia Empresarial?
É a tendência natural de toda empresa caminhar para a desordem, ineficiência e burocracia à medida que cresce. O papel da gestão é aplicar energia (processos e ordem) para conter essa força.
Esse modelo de gestão não é muito rígido para startups?
Depende. No início, o caos é necessário para a descoberta (Product-Market Fit). Mas para escalar, a ordem é obrigatória. O erro é manter a mentalidade de “garagem” quando a empresa já precisa de uma máquina de vendas.
Como aplicar a cultura de “não arredondar” sem criar medo?
Através do exemplo. O líder deve ser o primeiro a ser preciso. Quando a precisão é vista como uma ferramenta para resolver problemas mais rápido, e não para punir pessoas, a cultura adere.
Este artigo foi desenvolvido com base em insights e análises críticas extraídas do episódio #252 do JJ Podcast.
Assista ao episódio completo: Por Que Sua Empresa NÃO CRESCE e Como RESOLVER Isso (Tallis GOMES) | JOTA JOTA PODCAST #252


