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Você já sentiu que áreas críticas como TI, Dados e Processos funcionam como uma repartição pública dentro da própria empresa? Você abre um chamado, entra numa fila obscura e, meses depois, recebe algo que já não serve mais para a necessidade do negócio.
Existe uma forma de quebrar esse ciclo. Um modelo que não vejo ser aplicado na maioria das empresas tradicionais, mas que é o segredo de escalabilidade das gigantes de tecnologia. Vamos falar sobre descentralização, autonomia e o fim dos gargalos.
Por que manter especialistas de Tecnologia e Dados isolados em “Silos” trava o crescimento?
O modelo tradicional centralizado cria o que chamamos de “efeito gargalo”. Quando você tem uma única diretoria de Dados atendendo Marketing, RH, Logística e Financeiro, essa área se torna uma fábrica de tickets.
Nesse cenário, o especialista técnico:
- Não entende a dor do negócio (falta contexto);
- Atende quem grita mais alto, não o que é estratégico;
- Entrega o mínimo viável para se livrar da demanda.
A solução? O Modelo Híbrido (ou Hub-and-Spoke). A ideia é simples: manter a governança centralizada (o Hub), mas alocar as pessoas fisicamente e estrategicamente dentro das áreas de negócio (os Spokes). O especialista de IA do Marketing senta com o Marketing, respira as metas do Marketing e responde à velocidade do Marketing.
Se empresas não são democracias, como garantir a “Autarquia” da entrega?
Muitos gestores temem descentralizar por medo de perder o controle. Mas aqui vale uma máxima pragmática: empresas não são democracias. Elas precisam de direção clara.
O modelo híbrido não é anarquia; é uma autarquia bem definida.
- A Governança (Hub): Define como fazer. Garante qualidade, padrão de código, segurança e ferramentas. É a “lei”.
- O Especialista Embarcado (Spoke): Define o que e quando fazer, baseado na necessidade do diretor daquela área.
Com isso, eliminamos a burocracia da aprovação central para cada pequena tarefa. O técnico tem autonomia para executar porque ele segue os padrões da governança, mas corre na velocidade da área de negócio.
O especialista “embarcado” realmente aprende mais rápido e entrega melhor?
Sem dúvida. A curva de aprendizado de um profissional que atende a empresa toda é rasa e generalista. Já a curva de quem está imerso em uma área específica é profunda e especialista.
Quando um Engenheiro de Dados está alocado na Logística, ele deixa de ver apenas “tabelas e números”. Ele passa a entender de rotas, cubagem e last mile.
- O resultado: Ele deixa de ser um “tirador de pedidos” e vira um consultor proativo.
- A entrega: A solução nasce ajustada à realidade, sem aquele vai-e-vem interminável de refações por falta de entendimento.
A estrutura muda, mas o desafio permanece: é tudo sobre Comunicação?
Podemos mudar as caixinhas do organograma, mas o sucesso ou fracasso desse modelo recai sobre o pilar mais antigo da humanidade: a Comunicação.
Você estava certo ao pensar que o desafio final não é técnico. Em uma estrutura onde um profissional responde tecnicamente para um lado e negocialmente para outro, a comunicação é o fiel da balança. O profissional deixa de ser apenas um executor técnico e precisa desenvolver uma visão política e de negociação.
O Perfil do Profissional Híbrido
Para esse modelo não desmoronar, o especialista precisa de mais do que Hard Skills. Ele precisa ser um “tradutor”:
- Bilinguismo Corporativo: Saber falar “Tech” com a governança e “Business” com a diretoria.
- Gestão de Conflito: Saber dizer “não” para o negócio quando a governança proíbe, e pressionar a governança quando o negócio precisa de velocidade.
- Visão de Dono: Entender que seu salário vem do resultado que a área de negócio gera, não da quantidade de código que ele escreve.
Conclusão
Descentralizar a inteligência técnica não é “viajar”. É a evolução natural de empresas que querem parar de rastejar em filas de chamados e começar a correr com a velocidade que o mercado exige. O desafio é grande, exige maturidade e comunicação afiada, mas o resultado é uma empresa muito mais ágil e assertiva.


